Franquia social une empreendedorismo tradicional à missão de impactar pessoas

Gerando Falcões replica modelo de sucesso em 2 mil organizações sociais no Brasil

Organização social não vive apenas de donativos. Iniciativas como as da Gerando Falcões, que estruturou um modelo de expansão capaz de transformar realidades com escala e profissionalismo, ganham cada vez mais protagonismo ao unirem o empreendedorismo tradicional à missão de impactar pessoas e comunidades.

Podemos chamar a expansão de “franquias sociais”, embora a Gerando Falcões não utilize esse termo e a Associação Brasileira de Franchising (ABF) não o reconheça oficialmente como um modelo de negócio. Mas, de organização não-governamental (ONG) a ecossistema de desenvolvimento social, a entidade já replica sua estratégia empreendedora em 2 mil ONGs em todo Brasil.

Alex dos Santos é o nome de batismo de Lemaestro, como prefere ser chamado o diretor de Operações e cofundador da Gerando Falcões ao lado do CEO, Edu Lyra, ambos nascidos em favelas paulistas. Segundo ele, quando fundaram a ONG, em 2011, não sabiam o que era uma conta de pessoa jurídica. E só descobriram um ano depois ao receberem o primeiro investimento no projeto. “Aí, a gente foi entender mais desse universo e profissionalizar”, afirma.

Ao se perceberem como empresa social, Lemaestro conta que Lyra e ele fizeram mentorias com empresas renomadas, como Ambev e Accenture, implementaram gestão financeira, de processos e de pessoas e atraíram 2 mil famílias para atendimento em projetos sociais.

Quanto mais se profissionalizaram, melhores resultados alcançaram. Com isso, passaram a focar em estratégias sustentáveis para empreender socialmente. Depois de concluírem a própria jornada, desenvolveram um modelo replicável em outras instituições e “franquearam” a metodologia.

Gestão e impacto

O empreendedorismo social é uma resposta direta a problemas sociais e ambientais não resolvidos, muitas vezes, em contextos onde o poder público não chega. Logo, gerir um empresa social exige trilhar um caminho que combine eficiência operacional, inovação e métricas de impacto que resultem em transformações duradouras em comunidades vulneráveis. É um grande desafio.

Para dar transparência à escolha de parceiros e sintonizar agentes compatíveis com o seu propósito, a Gerando Falcões organiza sua rede por meio de um processo seletivo. “A gente lança um edital anualmente para selecionar organizações sociais que estejam alinhadas com os nossos critérios”, explica Lemaestro. Depois, são matriculadas na Falcons University, onde terão contato com 12 módulos de aprendizagem baseados na experiência de profissionalização da organização.

A formação inclui temas como gestão, captação de recursos, inovação, uso de dados e incentivos fiscais. Após os seis primeiros meses de capacitação, as entidades ingressam oficialmente na rede Gerando Falcões e permanecem em formação continuada por mais três anos e meio. Esse período replica o tempo que a própria GF levou para sair do zero e alcançar maturidade institucional.

Tecnologia social

As organizações aprendem a usar as tecnologias sociais desenvolvidas pela Gerando Falcões para as suas comunidades, desde o projeto Favela 3D (Digna, Digital e Desenvolvida), que envolve pilares estratégicos de moradia, educação e saneamento básico, por exemplo, até geração de renda, com AsMara, que vendem roupas usadas e estimulam a economia circular.

No entanto, a organização atingiu uma profundidade de impacto tamanha a ponto de conseguir oferecer investimentos para a sua base de ONGs. “Hoje, oferecemos investimentos estruturantes por meio de editais, seja com compra de equipamentos, contratação de pessoal ou consultorias especializadas. Algumas organizações entram num estágio intermediário e precisam de apoio para dobrar de tamanho. A gente acelera isso com investimento direto”, explica Lamaestro.

O resultado é visível. Um dos cases mencionados é o do Instituto do Grito. “Quando entrou na nossa rede, captava R$ 150 mil por ano e atendia 200 crianças. Agora, capta R$ 3 milhões anuais e atende mil famílias”, celebra o cofundador.

A Gerando Falcões também colhe os próprios resultados: passou de duas mil famílias atendidas para mais de 780 mil pessoas impactadas, em 5.500 favelas brasileiras de 26 estados. São 2.050 líderes formados, e os números não param de crescer.

Mesmo com a profissionalização, a GF e todas as empresas sociais contam com doações da sociedade civil, motivada a contribuir com as transformações sociais lideradas por essas instituições. “No fim, o nosso lucroé social, são comunidades e famílias impactadas, e não meramente o recurso financeiro”, lembra Lemaestro. “, segundo quem o “Mas o financeiro é muito importante para tudo isso funcionar”.

Imagens: Divulgação/Malu Monteiro