China é destaque no segundo dia do Latam Retail Show
Executivos da BYD e Jovi falaram sobre a cultura de negócios do gigante asiático
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Entender a China é um requisito necessário para permanecer relevante no varejo. Não para menos, o primeiro painel do segundo dia do Latam Retail Show sponsored by IBM, tenha se destacado como o mais importante entre os demais. Eduardo Yamashita, diretor de operações da Gouvêa Ecosystem, debateu o tema “Consumidor global, olhar também global: investimentos da China no Brasil”, do qual participaram Pablo Toledo, diretor de Comunicação e Branding da BYD Brasil, e de Jorge Gloss, diretor de Marketing da Jovi Mobile.
O painel apresentou uma visão estratégica sobre a presença crescente de empresas chinesas no mercado brasileiro. Durante a conversa, Toledo destacou o crescimento da BYD, que atualmente representa 8 em cada 10 carros elétricos vendidos no Brasil, além de um terço dos híbridos. A empresa atua também nos setores de transporte ferroviário, energia renovável e eletrônicos. Gloss contou a jornada da gigante chinesa, que nasceu em 1995 e estreia no Brasil em 2025, com modelo de negócio adaptado ao consumidor local.
O painel “Tradição x inovação: como reinventar sem destruir o legado na era da AI” abordou os desafios enfrentados por marcas tradicionais em um contexto de aceleração tecnológica. Carlos Capps, vice-presidente de CPG & Retail Industry Leader da IBM, e Sissi Freeman, diretora de Marketing e Vendas da Granado, discutiram como equilibrar herança de marca com transformação digital. A executiva da Granado compartilhou como a experiência internacional tem estimulado inovação na operação brasileira, especialmente, na categoria de perfumaria, que lidera as vendas fora do País.
A discussão trouxe reflexões sobre o uso de inteligência artificial e dados como ferramenta para impulsionar a inovação e também alertou para o risco de iniciativas que adotam tecnologia apenas como resposta ao hype do mercado, sem planejamento estratégico de longo prazo.
Design no varejo
A manhã seguiu com a apresentação da keynote speaker Cynthia Ortiz, presidente internacional do Retail Design Institute (RDI), que conduziu uma imersão sobre a evolução do design no varejo ao longo das últimas décadas.
A especialista apresentou uma linha do tempo que mostra a transição dos espaços físicos pouco atrativos dos anos 1980 para os ambientes imersivos, sensoriais e digitais da atualidade. A executiva compartilhou exemplos internacionais que demonstram como o design hoje é uma ferramenta estratégica de conexão emocional entre marcas e consumidores. Ela ressaltou o papel do varejo físico como um espaço de experiências memoráveis, cada vez mais integrado com o digital.
Consumo baseado em dados
O painel “O futuro em tempo real: o consumo movido a dados” reuniu Janice Mendes, sócia-diretora da Gouvêa Malls, Thiago Silva, diretor sênior de Inovação e Parcerias do iFood, e Richard Svartman, diretor de Estratégia Digital da Multiplan. O debate girou em torno da inteligência de dados como ferramenta para transformar a relação entre marcas e consumidores. Janice Mendes falou sobre a evolução do modelo de negócios. Explicou que no mercado se fala muito de B2C (Business to Consumer) e B2B (Business to Business), mas que agora é preciso incorporar o modelo de negócios A2C e A2B, relativo ao uso de agentes de IA diretamente para o consumidor ou outros negócios.
O executivo da Multiplan detalhou os programas de relacionamento que já capturam mais da metade das vendas em alguns shoppings da administradora. Ele também destacou iniciativas como o pagamento digital de estacionamento, o uso de dados para personalizar ofertas e a realização de milhares de eventos para aumentar o tempo de permanência dos clientes no estabelecimento comercial.
Já o iFood compartilhou os bastidores de sua parceria estratégica com a Uber e a construção de um CRM proprietário, que reconhece o comportamento do consumidor e oferece benefícios que aumentam a recorrência, reforçando o papel dos dados como aceleradores da fidelização.
Shopping centers
No painel “Os futuros dos shopping centers”, a discussão se concentrou na necessidade de adaptação desses espaços diante das rápidas mudanças no comportamento do consumidor. Participaram Luiz Alberto Marinho, sócio-diretor da Gouvêa Malls; Vicente Avellar, diretor da Allos; e Cecilia Ligiéro, diretora de Marketing e Inovação da Ancar Ivanhoe.
Durante o debate, Marinho usou a metáfora do “efeito Kodak” para ilustrar que os shoppings têm uma janela de tempo para conseguir fazer uma transição e se adaptar a um novo mundo de possibilidades no mercado. Segundo ele, os centros comerciais precisam deixar de ser vistos como simples pontos de venda e passar a atuar como espaços vivos, oferecendo experiências relevantes, bem-estar, natureza, eventos e cultura. O executivo da Allos destacou a importância da coleta e do compartilhamento de dados com os lojistas.
E-commerce
O painel “E-commerce na palma da mão: como as marcas estão escalando vendas com APPs” trouxe informações sobre o crescimento das vendas digitais por meio de aplicativos. Participaram Roberto Wajnsztok, sócio-diretor da Gouvêa Consulting; Flavio Reis, diretor de canais digitais da Lojas Renner; e Victor Maglio, diretor de E-commerce do Grupo Pão de Açúcar (GPA).
Os executivos apresentaram cases de sucesso que mostram como os aplicativos se tornaram canais estratégicos de relacionamento e faturamento. Hoje, os apps da Renner e do GPA representam mais de 15% do faturamento de cada companhia. Foram abordadas práticas como o uso dos aplicativos como plataformas exclusivas, com benefícios, conteúdos e serviços personalizados, fortalecendo a fidelização e melhorando a experiência de compra.
Eficiência operacional
A tecnologia aplicada à eficiência operacional foi tema do painel “Arquitetando a eficiência: como estruturas inteligentes aceleram o crescimento no varejo e no franchising”, com Lyana Bittencourt, CEO da Bittencourt Inteligência em Redes de Negócios; Raul Matos, CEO e fundador da Biscoitê; e Dorival Oliveira, vice-presidente da Arcos Dourados (McDonald’s Brasil).
A executiva da Bittencourt defendeu o uso de tecnologias como inteligência artificial não como um fim em si, mas como um meio para melhorar processos e decisões. Já Raul Matos destacou como a Biscoitê vem usando dados para mapear preferências de consumo, testar novos produtos e entender seu público. E Dorival Oliveira abordou a importância da padronização aliada à personalização, com ferramentas que conectam toda a operação da Arcos Dourados — de franqueados a fornecedores — por meio de dados e inteligência.
Parceria indústria e varejo
No painel “Menos ruído, mais resultado: colaboração indústria-varejo otimizando a operação comercial”, Rodrigo Catani, sócio-diretor da Gouvêa Consulting, moderou o debate entre Gabriela Pontin, vice-presidente Comercial da Ypê, e Luciano Bortolini, diretor executivo Comercial do Tenda Atacado.
A conversa trouxe exemplos práticos de como a parceria entre as empresas evoluiu para uma atuação conjunta e estratégica. Gabriela Pontin destacou o alinhamento de metas entre os times e o desafio da velocidade na execução. O diretor do Tenda Atacado abordou a importância do sortimento, da precificação e da estrutura comercial ajustada ao modelo cash & carry do Tenda. A parceria entre as marcas já gera ganhos em eficiência logística, presença em loja e crescimento de participação de mercado.
A tarde do segundo dia do evento contou ainda com a apresentação da pesquisa “Marcas próprias: do crescimento à transformação – uma perspectiva global de marca própria”, conduzida pela Circana. Participaram Daniel Morimoto, vice-presidente para América Latina da Circana; Ana Laura Tambasco, diretora executiva de Marcas Próprias do Grupo Carrefour Brasil; e Paula Gabriele Monteiro, gerente comercial da Bemol Farma.
O estudo mostrou que as marcas próprias estão em trajetória de crescimento contínuo e passaram a ocupar um papel estratégico no varejo moderno. Com presença relevante em mercados como Estados Unidos (22% do mercado de bens e consumo), Europa (39%) e Austrália (36%), essas marcas hoje se destacam não apenas pelo preço, mas também pela inovação, qualidade e capacidade de gerar fidelização.
Imagem: Isis Brum/Estratégias&Negócios