Keeta alcançará 80% do Brasil em dois anos
Em entrevista exclusiva, Danilo Mansano, disse que, no 1º semestre de 2026, o aplicativo estará presente nas 16 cidades com mais de 1 milhão de habitantes
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A gigante asiática Keeta desembarca oficialmente no Brasil com a meta ambiciosa de alcançar 80% da população urbana brasileira em dois anos. A operação, que será iniciada em Santos e São Vicente, na Baixada Santista, em 30 de outubro, deve expandir rapidamente para as principais regiões metropolitanas no primeiro semestre de 2026, cobrindo 16 municípios acima de 1 milhão de habitantes. Em seguida, avança para cidades do interior. A primeira metrópole a receber o aplicativo será São Paulo ainda neste ano.
“O ideal é, nesses dois anos, cobrir 80% da população urbana brasileira com nosso serviço”, afirma Danilo Mansano, vice-presidente da Keeta no País, em entrevista exclusiva ao Bittencourt Cast, gravado no BConnected, evento proprietário do Grupo Bittencourt, realizado nos dias 7 e 8 de outubro, no Teatro Bradesco, em São Paulo. Mansano participou do painel “O dragão do varejo: como a China está remodelando o setor no Brasil”, mediado por Lyana Bittencourt, CEO da consultoria, ao lado de executivos de Fabio Neto, sócio da Startse, e de Simone de Camargo, diretora de Marketing da Midea. O portal Estratégias&Negócios foi media partner no evento e fez a cobertura para o canal do Grupo no Youtube. Assista à entrevista completa.
A capital paulista foi escolhida para abrigar a sede da Keeta tanto pelo acesso a profissionais qualificados – e soma 1.200 colaboradores contratados – quanto por ser “o mercado mais pulsante e mais competitivo do ponto de vista de food delivery”, nas palavras do executivo. “Estar nesse ambiente faz com que a gente teste as soluções, teste as experiências, entenda como nossos produtos podem se posicionar”, diz. Para ele, esse passo a passo garante o funcionamento da operação, o que facilitará a expansão mais acelerada para as próximas cidades.
Na semana passada, a empresa anunciou oficialmente o início dos testes na Baixada Santista e o aporte de R$ 5,6 bilhões em investimentos ao longo de cinco anos no Brasil para estabelecer e expandir o negócio em todo território nacional. Quando o comunicado à imprensa foi divulgado, a Keeta informou um total de 700 restaurantes cadastrados, incluindo marcas como Sodiê, The Coffee, Seven Kings e Mania de Churrasco, bem como estabelecimentos locais populares, como Hey Burger, Chef Rangel, Dona Nice Steakhouse e Bardega Pizzaria, nas cidades-piloto.
Foco da Keeta é logístico
Danilo Mansano explica que o diferencial da Keeta está em seu modelo tecnológico, desenvolvido pela Meituan, referência global na entrega de refeições. A global Meituan atende 770 milhões de pessoas por ano e tem uma média de 80 milhões de pedidos diários. Além da China, que tem a maior população do mundo, a empresa está presente também no Oriente Médio, onde o modelo de negócio respondeu da mesma forma que na Ásia.
“A gente já fez expansões globais com mercados que tem menos densidade demográfica, como é o caso do Oriente Médio, e o produto se comporta da mesma maneira que se comporta no mercado chinês”, destaca. E a crença é de que, após os testes e os ajustes, o app terá resultado positivo também no mercado brasileiro.
A plataforma integra um sistema de despacho inteligente que permite rotas otimizadas, entregas em tempo recorde e redução drástica do tempo de locomoção dos entregadores, um dos pilares que sustentam a proposta de valor da marca.
Em 2019, seis anos antes de atuar na Keeta, Mansano decidiu viver na pele a experiência do entregador da marca, trabalhando durante uma semana nas ruas de Pequim. Em 6 horas, chegou a realizar 32 entregas, uma média de 5 pedidos por hora. “Algo impensável no Brasil”, relembra. “A densidade de pedidos e o uso de algoritmos que conectam entregadores, consumidores e restaurantes em rotas pré-definidas mudam completamente a dinâmica da entrega”, afirma.
A tecnologia da Keeta ainda inclui soluções de hardware, como capacetes inteligentes equipados com áudio e sensores de segurança, permitindo que o entregador siga rotas sem olhar para o celular, uma inovação que já funciona na China e deve chegar ao Brasil após certificação. “Temos um time dedicado ao processo de importação e homologação dessas tecnologias”, pontua Mansano.
Estratégia de expansão e operação local
Com sede em São Paulo e mais de 1.200 funcionários antes mesmo do início oficial das operações, a Keeta estruturou no Brasil o que Mansano chama de “o maior pré-operacional de startup da minha carreira”. A empresa vai atuar cidade a cidade, com times locais dedicados a dois eixos: relacionamento com restaurantes parceiros e atração de entregadores, criando uma rede sólida antes da ativação da plataforma.
Cada etapa da expansão é guiada por um conceito central: comprometimento de longo prazo, o que garante uma visão paciente de curto de prazo. Segundo o vice-presidente da Keeta, o Brasil é um mercado complexo, mas com muitas oportunidades, mapeadas pelo grupo chinês antes de desembarcar no País.
O executivo explica que o mercado brasileiro de entrega de refeições ainda está concentrado em momentos de indulgência, como jantares de fim de semana, e precisa avançar para ocasiões cotidianas de alimentação, como o almoço no trabalho. Ao ampliar o olhar para essa questão, a companhia entendeu que o consumidor paga muito caro por essa refeição, espera demais e raramente tem precisão na entrega. Por isso mesmo, evita o delivery na hora do almoço – com duração de 1 hora em média – por não poder contar com a entrega no tempo que dispõe para a refeição.
A estratégia da Keeta busca equilibrar os três lados do serviço – entregador, restaurante e consumidor -, otimizando ganhos e experiência de cada um. “A eficiência vem de manter o entregador em movimento, nunca parado. Isso aumenta ganhos e reduz custos sem sacrificar o serviço”, diz Mansano. “É uma equação que só se sustenta com tecnologia e volume”, conta.
Uma trajetória movida por propósito
Engenheiro de formação, Danilo Mansano iniciou sua carreira no setor de alimentos e bebidas, mas rapidamente percebeu que seu caminho estava na inovação. “Depois de três anos no mundo corporativo, eu sabia que não queria aquilo para o resto da vida. Fui empreender”, relata.
Sua trajetória inclui passagens por Uber e 99, ainda em suas fases embrionárias no Brasil, além da fundação da própria startup de tecnologia, que comandou por quatro anos antes de aceitar o convite para liderar a Keeta.
Metade de sua carreira foi construída como empreendedor e metade como executivo, combinação que ele considera fundamental para o cargo atual. “Eu só consigo falar com convicção sobre o que realmente acredito. E acredito profundamente na transformação que a Keeta pode trazer para o nosso mercado”, afirma.
Introvertido assumido, Mansano diz que a autenticidade é seu maior ativo como comunicador. “Não sou o tipo de líder expansivo. Mas quando falo de algo em que acredito, me sinto em casa.” Essa conexão com propósito se refletiu também no palco do BConnected, evento que marcou o terceiro recorde de público da marca e consolidou a Keeta como uma das presenças mais aguardadas do ecossistema de food delivery no Brasil.
“Falar para um público que entende do assunto e está curioso sobre a Keeta é um privilégio. Esse diálogo mostra que o mercado brasileiro está pronto para algo novo”, conclui.
Imagem: Rodrigo Ubukata/Bittencourt Cast