Anúncios com ofertas crescem 73% em relação a 2019
Pesquisa avalia a consolidação da era do consumo promocional no Brasil
O volume de ofertas veiculadas em mídias sociais, campanhas em TV e encartes físicos e digitais, cresceu 73% de janeiro a outubro deste ano em relação ao mesmo período de 2019, último ano pré-pandemia. Esse crescimento não é pontual. Além de ser um recorde histórico, segundo levantamento da Shopping Brasil, empresa especializada em pesquisa de ofertas, o montante reflete um comportamento consolidado do consumidor e da evolução das estratégias de mídia e precificação por parte do varejo e da indústria.
A digitalização foi um dos principais motores dessa transformação. Em 2019, apenas 6% das ofertas eram veiculadas em redes sociais. Em 2025, essa participação saltou para 57%, o que mostra que a comunicação promocional está, literalmente, na mão do consumidor. “As redes sociais se tornaram a nova vitrine do varejo. As ofertas chegam pelo celular, com agilidade, menor custo e apelo visual. A decisão de compra continua acontecendo majoritariamente na loja física, mas a motivação começa no digital”, explica Renata González, sócia e diretora Comercial da Shopping Brasil.
Pressão econômica
A pressão econômica também impulsiona esse movimento. Com grande parte da população endividada, o consumidor brasileiro está mais sensível ao preço. Comparar e buscar ofertas deixou de ser apenas um hábito: virou uma estratégia de sobrevivência.
“O fenômeno cultural das promoções encontra, hoje, uma base tecnológica robusta para se amplificar e está disponível a diferentes portes de revendas e fabricantes”, afirma Renata.
Outro protagonista desse cenário é o atacarejo. O canal dobrou sua participação nas ofertas em apenas quatro anos, saltando de 14% em 2021 para 33% em 2025. Além de ampliar sua presença digital, o formato investiu em sortimento mais completo, com destaque para perecíveis. Frutas, legumes, carnes e aves passaram a ser mais ofertados para aumentar a frequência de visitas às lojas e competir com supermercados e hipermercados em compras recorrentes.
A categoria de perecíveis, inclusive, foi uma das que mais cresceu. Em 2020, representava 29% das ofertas. Em 2025, esse número chegou a 34%. Já os produtos de mercearia, historicamente dominantes, cresceram de 35% para 37%, com forte presença de bebidas, especialmente em sazonalidades como Carnaval e fim de ano.
Cesta de perecíveis
Dentro da cesta de perecíveis, aponta a pesquisa da Shopping Brasil, os alimentos de preparo rápido, como congelados e resfriados, ganharam protagonismo. A popularização da airfryer impulsionou a demanda por produtos prontos ou semiprontos, que economizam tempo e se encaixam nos novos hábitos de consumo das famílias urbanas.
Outro dado relevante é o crescimento das marcas próprias nas ofertas. Em um cenário de busca por competitividade e margens preservadas, algumas redes já destinam até 25% de suas promoções a esses produtos.
Outubro de 2025 também registrou um marco: foi o mês com o maior volume de ofertas da série histórica, com crescimento de 16% em relação a outubro de 2024. O mês das crianças, a ascensão do Halloween e a expectativa da Black Friday ampliaram a competição pelo bolso do consumidor, antecipando estratégias e intensificando a comunicação promocional.
Na análise da empresa, as ofertas deixaram de ser apenas uma ação tática. “Elas se tornaram um componente estratégico do posicionamento de marcas e redes varejistas. Em um cenário econômico desafiador, saber quando, como, onde e com que frequência ofertar virou ciência”, comenta Renata Gonzalez.
Black Friday no digital
A principal data promocional do varejo instigou o brasileiro a buscar ofertas e promoções relevantes para o bolso. Nas três primeiras semanas da Black November, foram registrados mais de 5,3 milhões de pedidos até 23 de novembro, segundo uma pesquisa realizada pela Senior Sistemas, que acompanha grande parte das operações logísticas e de comércio eletrônico do País.
O estudou apontou um aumento de 6,9% em relação ao mesmo período de 2024. O movimento também se refletiu no volume de produtos enviados: mais de 206 milhões de itens foram movimentados, alta de 9,2% na comparação anual. A média de compras por pedido alcançou 3,3 itens, indicando um consumidor mais diversificado e disposto a aproveitar ofertas antecipadas.
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